Por:
Padre Roger Araújo
Estreou,
há poucos dias, nas telas do cinema do Brasil, o filme 'Noé'. A película gerou
muita expectativa pela divulgação e pelos atores que atuaram na produção. Eu
não sou crítico de cinema nem especialista no assunto, mas, como se trata de um
filme com temática bíblica, sinto-me na obrigação de manifestar minha opinião
sobre o que observei quando assisti a ele.
Do ponto de vista teológico, bíblico
e doutrinário, o filme é uma frustração do começo ao fim. Ele não se preocupa,
em nenhum momento, em ser fiel à narração bíblica ou se aproximar dela. Pelo
contrário, procura distorcer e apontar uma visão de fé totalmente contrária à
visão judaico-cristã. Uma mistura de concepções filosóficas anticristãs,
tentando levar as pessoas a uma concepção de Deus e da revelação divina
totalmente deturpada. Por isso, é importante afirmar que o Noé do filme não é o
Noé da Bíblia nem o Criador, apresentado pelo filme, corresponde ao Deus da
revelação bíblica.
O texto sagrado nos apresenta Deus como aquele que sempre
toma a iniciativa de salvar ou purificar a criação como obra de Suas mãos. A
missão de construir uma arca não é fruto de um delírio, de sonhos ou de
alucinações de Noé. Deus foi ao seu encontro e lhe confiou esta missão. Noé
personifica os homens tementes ao Senhor desde a criação do mundo. Ele não é um
alucinado, muito menos um fanático religioso sem consciência e sem maturidade,
como deseja apresentar o filme. A arca, diferente da Torre de Babel, não nasce
de nenhuma pretensão humana, mas é uma iniciativa divina para renovar a
humanidade.
Um dos ingredientes de mau gosto do filme é querer apresentar a
figura de anjos decaídos como grandes bonecos de pedra, feitos com alta
tecnologia digital, como os defensores de Noé, guardiões da arca e combatentes
contra os pretensos invasores dela. Essas criaturas, na concepção do filme,
ajudam Noé na construção da arca. Os elementos são sem fundamentos e distorcem
o sentido da revelação bíblica. Nenhum anjo decaído ajudou Noé nem pode ajudar
nenhum de nós. Ele não teve o auxílio desses fantasiosos guardiões. A luz, a
força e o auxílio que conduzem Noé é a mão de Deus, Criador de todas as coisas.
A visão hedonista do filme apresenta um dos filhos de Noé como um jovem
impelido a possuir a mulher de qualquer um a qualquer custo. Noé, como um
obcecado religioso, opõe-se ao fato de seu filho ter uma esposa. Ainda pior:
quando sua nora engravida, dentro da arca, Noé, em nome de Deus, fica irado com
a gravidez dela e se propõe matar a criança se ela for uma menina.
O texto
bíblico é muito claro ao dizer que Noé entrou na arca com sua mulher, seus três
filhos e a esposa de cada um deles. E eles, depois, iriam povoar a terra. O
filme tem muitas outras coisas de mau gosto e interpretações sem nenhum
fundamento religioso ou bíblico. Penso que o autor da obra poderia ter
respeitado, pelo menos, o essencial da narração do texto bíblico e criado
muitas coisas belas a partir daquilo que foi inspiração bíblica para criar o
filme.
A verdade é que o longa-metragem é uma afronta e uma distorção da beleza
da revelação divina. Ele não merece ser visto nem apreciado por quem tem a
Bíblia como um Livro Sagrado, fonte da revelação divina e inspiração primeira
de fé. Existem filmes mais sérios e de roteiros mais qualificados.
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